O escopo do que denominamos “inovação” se tornou bastante amplo. Atualmente há uma série de assuntos e derivações associadas à ele. Mesmo adicionando a palavra “digital” na tentativa de reduzir um pouco as possibilidades ainda teremos praticamente um mundo de interpretações possíveis. Praticamente tudo que é novo na área de tecnologia abre um leque enorme de oportunidades para novos negócios. Sejam em pequenas startups, sejam em gigantes estabelecidas. Sejam em empresas ponto com, sejam em corporações tradicionais. Desde a padaria da esquina até o maior fabricante mundial de automóveis. Todos, literalmente todos estão no jogo.
Neste contexto de novidades e de ideias promissoras, a maior parte do tempo os desafios estão relacionados a criar um ambiente propício a criatividade; fomentar o empreendedorismo e o sentimento de dono; aceitar e gerenciar o risco; promover o aprendizado continuo e sobretudo encorajar e organizar o trabalho em equipe. Mas não se engane, há também o lado da gestão dos processos e do portfolio, a limitação dos recursos, a preocupação constante com a escalabilidade e a necessidade de integração com uma realidade “legada”. Mesmo as iniciativas de caráter mais disruptivo mais cedo ou mais tarde terão de ser encaradas sob um prisma mais pragmático do retorno sobre o investimento.
É preciso ter cuidado. As promessas de uma nova realidade de modernidade e transformação nem sempre se materializam em termos de resultados concretos. É sabido que adotar métricas de medição tradicionais para iniciativas de inovação nem sempre é uma boa ideia. Eventualmente é preciso priorizar o aspecto conceitual de se estar introduzindo uma mudança tecnológica sobre o aspecto financeiro. Mas mesmo assim é importante ter clareza de onde se quer e se pode chegar. O direcionador definitivo para avaliar as iniciativas de inovação é o mesmo desde sempre no mundo corporativo. Valor para o cliente!
“Valor é criado através da remoção de uma limitação significativa para o cliente, de uma maneira que não era possível antes, em uma extensão que nenhum outro competidor pode entregar”
– Dr. Eliyahu M. Goldratt
Se você já estava no mercado de trabalho no final dos anos 80 deve se lembrar que naquele momento houve um grande movimento de aquisição e adoção de sistemas de gestão integrados, os ERP. Embaladas pela popularização da baixa plataforma (ou seja, processamento descentralizado), as empresas viam a possibilidade de conectar seus processos internos e automatizar o fluxo de dados. Uma indústria praticamente nova de TI surgiu naquele momento. Fabricantes de ERP nacionais e estrangeiros proliferaram no mercado em conjunto com um grande número de consultorias especializadas em projetos de implantação.
Se naquele momento os motores da mudança foram racionalização, padronização e a oportunidade de adotar melhores práticas globais embutidas nos processos padronizados dos sistemas agora o apelo é aumentar a entrega de valor ao cliente através de uma experiência de compra (muito) melhorada.
Apesar de separados por praticamente três décadas estas duas épocas têm muita semelhança e acredito que os parâmetros de avaliação e seleção das oportunidades são praticamente os mesmos. Por que inovar? O que se procura com novas tecnologias? O quanto importante é para a empresa adotar estas novas tecnologias? Como conseguir realmente mobilizar e motivar o time adequado para a inovação?
Na verdade, estas três questões sempre me vem a cabeça quando falo sobre melhorias e tecnologia:
“O que mudar? Para que mudar? Como causar a mudança?“
– Dr. Eliyahu M. Goldratt.
Eu creio que o ponto central desta discussão é como definir e implementar processos de governança capazes de controlar todos estes movimentos dentro da empresa sem tirar o cerne da inovação que é a capacidade de criar considerando uma realidade que ainda está em formação. Particularmente gosto de pensar em um framework de trabalho onde se possa contar com as pessoas certas no momento certo. Equipes de criação e concepção nem sempre são as mesmas de avaliação e adequação (nem deveriam). Enfim, acredito que cada empresa tenha as suas necessidades e capacidades distintas e achar o caminho de como abordar a Inovação Digital deve ser um assunto que se não está na pauta da gestão estratégica, deverá estar em breve.
Para encerrar esta breve reflexão escolhi duas citações de alguém que sempre me inspira quando converso sobre inovação:
“To turn really interesting ideas and fledgling technologies into a company that can continue to innovate for years, it requires a lot of discipline.“
– Steve Jobs
“A lot of companies have chosen to downsize, and maybe that was the right thing for them. We chose a different path. Our belief was that if we kept putting great products in front of customers, they would continue to open their wallets.“
– Steve Jobs